Extensão e além
A extensão universitária é atividade acadêmica obrigatória nos cursos de graduação, articulando ensino e pesquisa e dialogando com a sociedade.
Mas, para além da norma, os educadores mais atentos lembram que extensão não é caridade, não é voluntariado e não é estágio. É troca de saberes, é reconhecimento da sabedoria popular, é escuta ativa e produção conjunta de conhecimento.
Extensão é quando o aluno desce da torre de marfim e entra no território, não para “ensinar”, mas para aprender com e junto. É nesse movimento que ele entende seu papel social e também seu papel como futuro profissional em um mundo interconectado.
E a tecnologia? Ela afasta ou aproxima?
Aqui entra o ponto delicado — e urgente — da discussão contemporânea. Para muitos especialistas em tecnologia da informação, a revolução digital pode parecer distante da realidade da extensão. Afinal, o que um aplicativo tem a ver com agricultura familiar? O que uma planilha tem a ver com roda de conversa?
Mas essa separação é ilusória. Como mostram projetos bem-sucedidos, a tecnologia, quando usada com critério, pode ser ferramenta de inclusão e emancipação social. Aplicativos desenvolvidos por alunos para orientar mulheres vítimas de violência. Plataformas de georreferenciamento para melhorar o acesso a serviços públicos. Podcasts educativos cocriados com comunidades quilombolas. Lives com cooperativas transmitidas em tempo real, com legendas e intérprete de Libras.
Não se trata de “digitalizar a extensão”, mas de permitir que a tecnologia amplifique o impacto social do trabalho comunitário — sem substituir a presença, o afeto, o chão batido.
TI e educação caminham juntas quando reconhecem que dados e algoritmos não explicam o mundo — mas podem ajudar a transformá-lo, quando colocados a serviço de projetos éticos, colaborativos e territorialmente situados.
O estudante que participa de uma ação extensionista não volta o mesmo
É uma percepção compartilhada por professores veteranos: o aluno que acompanha uma família em situação de vulnerabilidade, que ouve uma liderança comunitária, que planeja com a equipe de saúde local, reconfigura sua forma de enxergar o curso, o currículo e sua profissão.
Quando a experiência da extensão é significativa, ele volta para a sala de aula com perguntas novas. E muitas vezes com menos certezas.
Esse é o ponto exato onde a educação se torna transformação — e não apenas transmissão.
O que não cabe em regulamento, mas muda tudo
Extensão universitária é mais do que uma exigência do MEC. É o fio condutor entre o conhecimento acadêmico e os desafios do mundo real.
Na era digital, esse fio se estica — conecta a presença no território com as tecnologias da informação e das comunicações, sem que uma elimine a outra.
Imagem: iStock.com/Andrea Migliarini