Inteligência Artificial na Educação: entre a promessa e a responsabilidade

Jornal da Educação

março 29, 2025

Não é de hoje que se fala em tecnologia na sala de aula, mas algo mudou — e rápido. Com o avanço da Inteligência Artificial (IA), a ideia de que máquinas podem aprender, adaptar-se e responder de forma contextualizada deixou de ser apenas tema de filmes futuristas. Ela já está presente no cotidiano de professores e alunos — mesmo quando ninguém percebe.

Assistentes virtuais, corretores automáticos, sistemas de recomendação de conteúdo, robôs tutores, geradores de feedback automático, tradutores, plataformas adaptativas: a IA chegou. E o desafio agora não é perguntar se ela será usada na educação, mas como e para quê.

People waving

Uma tecnologia que desafia as pedagogias

Para os educadores mais atentos, a IA não é apenas uma nova ferramenta — é uma mudança de cenário. Especialistas como Pierre Lévy, Cristina Costa e José Moran têm apontado que a inteligência artificial, ao assumir parte da mediação do conhecimento, obriga a escola e o professor a redefinirem seu papel.

A IA pode corrigir testes, sugerir conteúdos, diagnosticar dificuldades e muito mais. Mas talvez ela não possa compreender o contexto subjetivo do aluno, nem substituir o encontro humano que dá sentido ao aprender. E é aí que mora a principal linha de tensão: a IA pode personalizar, mas ela substitui a escuta, o afeto, a ética, a mediação crítica?

Muitos educadores reconhecem o potencial da IA para otimizar o tempo docente, permitindo que professores se concentrem em tarefas mais humanas, como a orientação, o debate e a avaliação formativa. Mas, ao mesmo tempo, alertam para o risco da “automatização da pedagogia”, onde a eficiência tecnológica pode rumar no sentido de tentar suprimir a complexidade do processo educativo.


Um sistema que aprende com o que damos a ele

Do lado da Tecnologia da Informação, os especialistas são claros: a IA é poderosa — mas depende dos dados que recebe e dos critérios com que foi treinada. Isso significa que viéses algorítmicos, lacunas culturais e decisões opacas podem reproduzir desigualdades, mesmo sob a aparência de neutralidade.

TI e Educação concordam, por exemplo, que plataformas de IA aplicadas à educação precisam garantir:

  • Transparência nos critérios de recomendação;
  • Segurança de dados, conforme a LGPD;
  • Explicabilidade dos resultados (o famoso “por que esse conteúdo?”);
  • Interoperabilidade com os sistemas acadêmicos já existentes;
  • Controle do professor sobre a curadoria e validação de materiais.

É justamente neste ponto que ética, pedagogia e governança digital precisam andar juntas.


Da personalização à criatividade: o que já está em uso

No cotidiano acadêmico, as aplicações de IA já são diversas:

  • Chatbots de suporte ao aluno (como Tawk.to com IA integrada);
  • Plataformas adaptativas de aprendizagem (como Knewton, Smart Sparrow);
  • Sistemas de correção automática com feedback qualitativo;
  • Ferramentas de IA generativa, como ChatGPT, utilizadas para esboçar textos, traduzir conceitos ou gerar explicações alternativas;
  • Análise preditiva para identificar risco de evasão;
  • Assistentes virtuais em ambientes como o Microsoft 365, Google for Education e bibliotecas digitais.

O desafio atual não é mais viabilizar a IA — é usar com intencionalidade pedagógica e com responsabilidade institucional.


Uma pergunta que a IA não responde

A inteligência artificial pode resolver muitas questões operacionais da educação. Mas ela não responde à pergunta essencial: “O que queremos com tudo isso?”

Se o foco for apenas desempenho, eficiência e entrega de conteúdo, a IA será moldada para reproduzir padrões de ensino bancário, de padronização e controle. Se o foco for a formação de sujeitos críticos, criativos, colaborativos e éticos, a IA poderá — com limites e cuidado — ser aliada de uma escola mais inteligente, não apenas mais automatizada.


Um campo em construção (e com muito a aprender)

A aplicação de IA na educação não é neutra, nem inevitável. É uma escolha pedagógica, política e ética. É uma ferramenta potente, mas precisa ser inserida em um projeto institucional que valorize a mediação docente, a justiça educacional e a autonomia dos estudantes.