“Mas isso é aula ou jogo?”
Talvez a pergunta tenha um tom irônico. Mas cada vez mais, a resposta certa é: as duas coisas.
Jogos e simulações não são mais apenas “recursos complementares”. Nas salas de aula que olham para o futuro — inclusive em cursos de nível superior — eles estão se tornando ferramentas pedagógicas centrais, capazes de provocar engajamento, pensamento crítico, colaboração e, acima de tudo, aprendizagem significativa.
Especialistas em educação e tecnologia concordam: jogos não são distração — são linguagem. E como toda linguagem, podem (e devem) ser usados para ensinar.

Uma outra forma de experimentar o conhecimento
No pensamento de educadores como Seymour Papert, um dos criadores do conceito de aprendizagem construcionista, os jogos são ambientes onde o estudante pensa com as mãos, testa hipóteses, erra com segurança e aprende com as consequências. Já para James Paul Gee, os jogos criam um espaço de aprendizagem em que problemas precisam ser resolvidos com raciocínio e contexto — exatamente como no mundo real.
Simulações também têm lugar especial. Ao permitir que os alunos “vivenciem” situações reais — como montar uma empresa, tomar decisões clínicas, ou simular um tribunal — elas criam experiências imersivas de alto valor cognitivo. Aqui, teoria e prática não estão em lados opostos: estão integradas no próprio fluxo da atividade.
Professores que utilizam jogos e simulações de forma planejada sabem: a preparação leva tempo, exige alinhamento com objetivos de aprendizagem e, muitas vezes, precisa de coragem para experimentar. Mas os resultados são poderosos — especialmente quando se quer formar profissionais que saibam pensar, agir, decidir, colaborar.
E a TI, o que tem a ver com isso?
Na visão de especialistas em tecnologia da informação, os jogos educacionais representam um dos campos mais promissores da EdTech. De simuladores baseados em IA até jogos sérios (serious games) desenvolvidos sob medida para cursos específicos, o potencial tecnológico vai muito além dos “joguinhos” com estética retrô.
A questão central, segundo os profissionais de TI, é garantir ambientes estáveis, acessíveis e integrados aos sistemas da instituição. Um jogo que não carrega, uma simulação que trava, um laboratório remoto que exige plugins desatualizados — tudo isso desestimula o uso pedagógico.
Outro ponto chave é o respeito à privacidade e à segurança dos dados dos estudantes, especialmente quando se utilizam plataformas externas ou jogos comerciais. A integração entre pedagogia e TI precisa ser pensada desde a concepção da proposta: quem desenvolve o conteúdo, quem hospeda a ferramenta, quem coleta os dados?
Além disso, os especialistas alertam: não se trata de “gamificar tudo”. O uso de jogos e simulações precisa ser orientado por critérios pedagógicos — não por modismos ou pelo impulso de tornar tudo “divertido”.
O jogo vira quando o jogo ensina
Na Faculdade IBPTECH, iniciativas com jogos e simulações estão sendo incorporadas a componentes curriculares ligados à cibersegurança, direito digital, gestão e inovação. A ideia não é transformar tudo em competição, mas criar experiências de aprendizagem imersivas, práticas e desafiadoras, em que o erro seja permitido, o raciocínio seja estimulado, e o conteúdo ganhe vida.
Alunos relatam maior engajamento, sensação de protagonismo e compreensão mais profunda dos temas trabalhados. Professores relatam aulas mais vivas, mais imprevisíveis — e também mais verdadeiras.
Quando aprender se parece com viver
No fundo, jogos e simulações não são apenas estratégias para tornar a aula mais divertida. Eles são formas de representar o mundo, de testar hipóteses, de tomar decisões com consequências, de experimentar a complexidade sem correr o risco real.
Na aprendizagem ativa, o jogo não é uma pausa no conteúdo. Ele é o próprio conteúdo vivido.
E numa sociedade em que tudo muda rápido, talvez ensinar jogando não seja só uma inovação — seja uma necessidade.