A formação continuada de professores para o uso de tecnologias educacionais é um daqueles temas que todo mundo concorda que é importante — mas que raramente acontece do jeito que deveria. Por quê? Porque formar para a tecnologia não é (e nunca foi) ensinar alguém a apertar botões. É promover uma mudança de postura profissional, uma ampliação de repertório didático e, muitas vezes, uma revisão profunda sobre o papel do educador no século XXI.
E é exatamente aqui que começa o desafio.
Quando se fala em formação continuada para o uso de tecnologias nas instituições de ensino superior (IES), dois olhares costumam predominar: o da pedagogia e o da tecnologia da informação. E nem sempre esses olhares conversam — o que, por ironia, acaba dificultando a formação de quem mais precisa de apoio: o professor.
Enquanto muitos especialistas em educação insistem (com razão) que a tecnologia precisa estar a serviço de um projeto pedagógico e de práticas emancipatórias, os profissionais da TI — igualmente bem-intencionados — lembram que, sem infraestrutura, segurança, integração e fluência digital mínima, não há prática pedagógica que sobreviva no digital.
Ambos estão certos. E é justamente da soma dessas visões que deveriam nascer os bons programas de formação docente continuada.

Um convite que precisa ser mais do que técnico
Quando se convida um docente a “aprender a usar o Moodle” ou “dominar o Teams”, o convite precisa vir acompanhado de algo mais: por que usar? para quê? o que se ganha didaticamente com isso? como isso se integra ao plano de ensino?
A formação não deve ser somente técnica (embora isso seja essencial), mas também reflexiva, situada, contextualizada e significativa. Não se trata de aprender uma ferramenta. Trata-se de entender como ela transforma (ou deveria transformar) o modo de ensinar e de aprender.
Nas palavras de um professor da Faculdade IBPTECH:
“O problema não é o Moodle, é o que eu, como professor, faço com ele. O Moodle pode ser só uma estante virtual… ou pode ser uma sala viva.”
É esse tipo de consciência que os programas de formação deveriam cultivar.
O que funciona, segundo quem vive isso
Algumas experiências bem-sucedidas mostram que o mais eficaz não é o curso isolado, nem a oficina pontual, mas um programa articulado, contínuo, com tempo para experimentação, apoio técnico próximo e, sobretudo, espaço para troca entre pares. Quando os professores compartilham seus próprios usos de tecnologia — acertos, erros, improvisos, adaptações — a formação ganha corpo, ganha rosto, ganha sentido.
Do lado da TI, os profissionais destacam a importância de oferecer suporte proativo, com infraestrutura amigável, soluções interoperáveis, documentação clara, e sem sobrecarga de ferramentas paralelas que confundem mais do que ajudam. Uma formação eficaz precisa vir acompanhada de um ecossistema digital coerente, em que o docente sinta-se pertencente e respaldado — não apenas cobrado.
Onde isso tudo nos leva
As tecnologias educacionais não são um extra. Elas fazem parte do cenário, da cultura, das demandas dos estudantes e das exigências da profissão docente atual. Não se trata mais de “adotar ou não”. Trata-se de escolher como, quando e com quais propósitos vamos mediar a aprendizagem usando as ferramentas que temos à disposição.
É por isso que a formação docente continuada precisa sair da lógica do “treinamento técnico” e entrar na lógica do desenvolvimento profissional autêntico. Não basta ensinar a usar. É preciso formar para compreender, integrar, adaptar, transformar.
E, no final, talvez essa seja a melhor tecnologia de todas: aquela que não substitui o professor — mas amplia, qualifica e humaniza o que ele pode oferecer.