Práticas e programas de formação docente continuada para uso de tecnologias educacionais.

Jornal da Educação

janeiro 28, 2025

A formação continuada de professores para o uso de tecnologias educacionais é um daqueles temas que todo mundo concorda que é importante — mas que raramente acontece do jeito que deveria. Por quê? Porque formar para a tecnologia não é (e nunca foi) ensinar alguém a apertar botões. É promover uma mudança de postura profissional, uma ampliação de repertório didático e, muitas vezes, uma revisão profunda sobre o papel do educador no século XXI.

E é exatamente aqui que começa o desafio.

Quando se fala em formação continuada para o uso de tecnologias nas instituições de ensino superior (IES), dois olhares costumam predominar: o da pedagogia e o da tecnologia da informação. E nem sempre esses olhares conversam — o que, por ironia, acaba dificultando a formação de quem mais precisa de apoio: o professor.

Enquanto muitos especialistas em educação insistem (com razão) que a tecnologia precisa estar a serviço de um projeto pedagógico e de práticas emancipatórias, os profissionais da TI — igualmente bem-intencionados — lembram que, sem infraestrutura, segurança, integração e fluência digital mínima, não há prática pedagógica que sobreviva no digital.

Ambos estão certos. E é justamente da soma dessas visões que deveriam nascer os bons programas de formação docente continuada.

Black chairs

Um convite que precisa ser mais do que técnico

Quando se convida um docente a “aprender a usar o Moodle” ou “dominar o Teams”, o convite precisa vir acompanhado de algo mais: por que usar? para quê? o que se ganha didaticamente com isso? como isso se integra ao plano de ensino?

A formação não deve ser somente técnica (embora isso seja essencial), mas também reflexiva, situada, contextualizada e significativa. Não se trata de aprender uma ferramenta. Trata-se de entender como ela transforma (ou deveria transformar) o modo de ensinar e de aprender.

Nas palavras de um professor da Faculdade IBPTECH:

“O problema não é o Moodle, é o que eu, como professor, faço com ele. O Moodle pode ser só uma estante virtual… ou pode ser uma sala viva.”

É esse tipo de consciência que os programas de formação deveriam cultivar.


O que funciona, segundo quem vive isso

Algumas experiências bem-sucedidas mostram que o mais eficaz não é o curso isolado, nem a oficina pontual, mas um programa articulado, contínuo, com tempo para experimentação, apoio técnico próximo e, sobretudo, espaço para troca entre pares. Quando os professores compartilham seus próprios usos de tecnologia — acertos, erros, improvisos, adaptações — a formação ganha corpo, ganha rosto, ganha sentido.

Do lado da TI, os profissionais destacam a importância de oferecer suporte proativo, com infraestrutura amigável, soluções interoperáveis, documentação clara, e sem sobrecarga de ferramentas paralelas que confundem mais do que ajudam. Uma formação eficaz precisa vir acompanhada de um ecossistema digital coerente, em que o docente sinta-se pertencente e respaldado — não apenas cobrado.


Onde isso tudo nos leva

As tecnologias educacionais não são um extra. Elas fazem parte do cenário, da cultura, das demandas dos estudantes e das exigências da profissão docente atual. Não se trata mais de “adotar ou não”. Trata-se de escolher como, quando e com quais propósitos vamos mediar a aprendizagem usando as ferramentas que temos à disposição.

É por isso que a formação docente continuada precisa sair da lógica do “treinamento técnico” e entrar na lógica do desenvolvimento profissional autêntico. Não basta ensinar a usar. É preciso formar para compreender, integrar, adaptar, transformar.

E, no final, talvez essa seja a melhor tecnologia de todas: aquela que não substitui o professor — mas amplia, qualifica e humaniza o que ele pode oferecer.